Pouco mais de 30min. Este era o tempo em que estava ali. E nesse pouco tempo dezenas de olhares já haviam cruzado com o meu. Contudo, hoje eu não queria apenas alimento. Queria algo mais. Hoje o ritual deveria ser completo. E para isso, precisava de alguém especial...
Inicialmente, não foi sua aparência q despertou minha atenção. Foi seu odor. O cheiro do seu perfume. Poucas pessoas entendem que a qualidade de um perfume depende não apenas da composição da fragrância, de suas notas e do clima. Depende também da pele de quem o usa. O cheiro varia de uma pele para outra. E, normalmente, o odor do perfume evolui com o passar das horas. Logo q o senti, procurei por descobrir de onde vinha aquele odor. Saí caminhando em sua direção, cruzando as inúmeras pessoas da boate e sem me dar conta de tantos outros olhares voltados para mim. Repentinamente, parei. O odor agora era mais intenso. Já podia perceber q a presa estava logo ali, há poucos metros de mim. Foi então, q me surpreendi. Era uma mulher...
Voltei ao bar. Pedi um Martini rosè. Enquanto bebia fiquei pensando no q fazer. Ate aquele momento, jamais me houvera ocorrido a possibilidade de me sentir atraída por outra mulher. Não se tratava mais apenas do perfume. Seu rosto delicado, seus cabelos dourados, seus gestos suaves, parecia q se movia em câmera lenta...Meus sentidos revelavam sua posição. Embora, não estivesse a vista, sabia q continuava no mesmo lugar a conversar com alguém...
A essa altura, já não me importava mais o fato de ser outra mulher a me atrair. Agora, o q me preocupava era se conseguiria seduzi-la. Dentre minhas capacidades recém adquiridas, a capacidade de sedução era a q mais me fascinava. Enquanto ainda vivia como uma simples mortal, era rejeitada por todos. Apenas dois namorados tive. Nunca fui desejada. Somente após meu renascimento e com o despertar de meus novos dons tudo mudou. Provavelmente, foram os feromônios que se intensificaram em mim. A questão era saber se minha capacidade de sedução também se estenderia a presas do mesmo sexo...
Reaproximei-me da presa. Mantive-me a poucos metros a procura de um contato visual. Pouco tempo depois, ela me notou. Em um primeiro momento, foi algo casual, mas logo percebi q não mais parava de olhar para mim. Pareceu-me constrangida, provavelmente sem entender pq não conseguia mais desviar sua atenção de mim. Saí novamente em sua direção. Seus batimentos aceleraram, começou a suar e a tentar desviar seu olhar. Propositadamente, passei ao seu lado e segui na direção do toilete. Não precisei esperar muito. Veio ate o banheiro, parou diante de mim e timidamente me entregou um pequeno papel. Logo depois, saiu sem dizer uma palavra...
Encontrei-a no lugar marcado. Estacionamento ala leste. Ela estava em um carro branco, quatro portas, vidros fumê. Não estava sentada no banco do motorista e sim no banco de passageiros a me esperar. A porta estava entreaberta. Entrei no carro e fechei-a com trave. Todo aquele clima me excitava. O cheiro do perfume mesclado ao seu suor. Seu nervosismo e timidez. O pulso acelerado. Aproximei-me, toquei levemente seu pescoço e a senti arrepiando-se. Estava com os olhos fechados, a boca aberta...
Beijei seus lábios...nunca houvera experimentado algo assim com homem algum...estava completamente tomada pelo desejo. Não se tratava ainda da fome, mas de excitação...nos despimos uma a outra...tocava seus seios enquanto sua mão deslizava entre minhas coxas...a beijava ardentemente...seios contra seios...arrepios involuntários...suor e saliva misturavam-se enquanto a beijava por completo...
Passei a beijar seus outros lábios...e a sentir seu corpo tremendo de excitação...seus gemidos incontidos...por fim, a fiz gozar e o grande momento se apresentou...era hora de concluir o ritual. Todos elementos se faziam presentes: sua respiração ofegante era o vento...seu suor a água...seu calor o fogo e seu corpo a própria terra para onde retornaria um dia. A hora havia chegado...
Em um movimento rápido mordi seu pescoço...ela ainda estava sem ação, não teve como reagir e, aliás, acho que nem quis. Comecei a sugar aquele tecido vivo, que antes circulava pelo seu corpo levando oxigênio e nutrientes para seus órgãos...agora, o que havia sido dela, fazia parte de mim...sorvi seu alimento e aos poucos ela foi perdendo a consciência...
Enquanto retornava à minha casa, lembrei-me de tudo o que ocorrera. Sentia-me estranha como se tomada por algum sentimento de culpa. Mas já era tarde demais para arrependimentos e um predador não pode jamais alimentar qualquer tipo de remorso. É uma questão de sobrevivência. Matar para viver, viver para matar. Assim q deve ser, sempre...